Técnicas Para o Controle Ejaculatório

Técnicas Para o Controle Ejaculatório*

Tratamento da Ejaculação Precoce

Antes de tudo, para o sucesso do treinamento, é importante que se considerem três aspectos. Primeiro, a atenção do homem, relativamente às suas sensações orgásmicas, deve estar bem desenvolvida de modo que se possa interromper a atividade exatamente quando necessário. Segundo, o casal deve evitar temporariamente a penetração e adotar uma maior variedade da prática sexual. Terceiro, o casal deve buscar formas alternativas para desenvolver o controle ejaculatório. Resultados terapêuticos positivos se refletem pela motivação do homem para continuação do tratamento e pela avaliação positiva da mulher sobre a qualidade da relação sexual. A tolerância da estimulação extravaginal por tempo mais prolongado possível indica cura da ejaculação precoce.

A técnica denominada para-reinicia foi inicialmente apresentada por Semans (1956), com o propósito de retardar o mecanismo do reflexo neuromuscular ejaculatório, e derivada por Masters & Johnson (1970) para a técnica da compressão. A diferença entre as técnicas para-reinicia e para-comprime é que a última utiliza um aperto manual, por quase 20 segundos, na base da glande (junto à prega coronal) ao invés de uma pausa, no início da fase ejaculatória.

Os itens abaixo descritos são produtos da prática clínica e de supervisão e das instruções disponíveis na bibliografia consultada. Devem-se apresentar os itens, oralmente e por escrito, em passos sucessivos, e explicar semanalmente ao casal cada item abaixo e discutir progressivamente os resultados de cada prática.

1. Primeira prática. Efetuar estimulação sexual mútua apenas até o ponto de levar o homem à ereção, estando o mesmo deitado de costas. A parceira estimula o pênis, manual e/ou oralmente, como preferir, enquanto o homem focaliza a atenção (concentrar-se, sem distrações) exclusivamente nas sensações eróticas penianas. O homem deve permanecer descontraído em relação à mulher, deixando-a seguir seu próprio ritmo à vontade.
O homem deve pedir à parceira que pare de estimulá-lo logo que sentir sensação premonitória de orgasmo, para logo depois perceber que a sensação desaparecerá dentro de poucos segundos. Mas, antes que a ereção diminua ou se perca, é reiniciada a estimulação a um sinal do homem e de novo interrompida antes do orgasmo.
Este procedimento deve ser repetido por duas ou três vezes, antes que o homem permita que a estimulação continue até o orgasmo. Na quarta vez, permite-se a ejaculação. Em nenhum ponto o homem deve tentar exercer controle consciente sobre o orgasmo, exceto para assinalar à mulher o momento em que deve interromper a estimulação.

2. Na segunda ocasião de prática, o homem pode colocar sua mão sobre a da companheira e experimentar as sensações produzidas pela variação de velocidade, pressão e regiões de estimulação. No mais, deve-se proceder como na primeira prática.

3. Na terceira prática, se nas ocasiões anteriores o homem houver conseguido concentrar-se na sua sensação, reconhecer a intensidade da mesma exatamente antes do orgasmo e interromper a tempo sua companheira, desta vez pode usar gel lubrificante. Nesta etapa, deve-se ainda procurar manter os mesmos procedimentos utilizados anteriormente.

4. Quarta prática. Se o procedimento acima de para-reinicia não for suficiente, deve-se recorrer á técnica da compressão (ou para-comprime), a ser desenvolvida seguidamente de forma adequada, a depender do progresso obtido até então. Na prática da compressão, o homem sinaliza à parceira quando sente o aumento da urgência ejaculatória e, neste momento, o casal suspende a estimulação manual, devendo a mulher aplicar com os dedos certa pressão embaixo da borda da glande, a ponto de reduzir a urgência, mas não de perder totalmente a ereção, devendo reiniciar e repetir o procedimento logo após. O casal deve verificar à qual técnica se adapta mais.
Depois de três a seis execuções das práticas acima descritas, em cada uma das quais se permite a ejaculação na quarta ereção, o homem avalia a ocorrência de alguma melhora no controle orgásmico. Geralmente, a melhora é detectada não só no controle, mas também na qualidade e intensidade da sensação.

5. Neste ponto, muda-se para a quinta prática, iniciando-se a fase de coito. O casal não deve se apressar para a consecução dessa fase, mas lembrar-se de que o prazer sexual intenso pode ser obtido fácil e satisfatoriamente mesmo sem penetração. Habituar-se a isto é bastante tranqüilizante e salutar. Portanto, para que pressa? Melhor é tornar a coisa uma “curtição”. Nesta fase, o coito é praticado posicionando-se a mulher sobre o companheiro. Após certo aquecimento, pela repetição das estimulações já descritas nas fases anteriores e até mesmo de outras estimulações que o casal julgar prazerosas, com a mulher na posição superior, o homem coloca as mãos nos quadris da parceira, esta se abaixa até o falo ereto, orientando-o e deixando-se penetrar. Aí, então, aguarda o sinal do companheiro para começar a movimentar-se. O homem permanece deitado e quieto, sem movimentos pélvicos, enquanto controla com as mãos o ritmo dos impulsos pélvicos femininos. Emprega-se outra vez o procedimento para-reinicia, de modo que os movimentos da mulher sejam interrompidos quando o parceiro atingir o nível de sensação pré-orgásmica. Neste ponto, o pênis deve ser mantido imóvel dentro da vagina até que a sensação desapareça, reiniciando-se, então, os impulsos antes de qualquer diminuição de ereção. Nesta fase, a ejaculação deve ser produzida, após o orgasmo feminino, somente pelos mesmos procedimentos empregados anteriormente na quarta prática. A mulher, entretanto, deve se sentir livre para buscar seu próprio orgasmo, podendo variar de posição, sentando-se sobre o homem ora de frente ou de costas e, se possível, praticar também a estimulação clitoriana ou pedir ao parceiro que o faça. Como o coito se torna mais demorado, conviria que a mulher atentasse às alterações penianas, além, é claro, das suas próprias, identificando os sinais pré-orgásmicos masculinos, de modo a explorar melhor a situação, em benefício do controle sobre o parceiro e da maximização e otimização de seu próprio prazer. Somente na quarta vez de prática do coito com a mulher na posição superior, o homem se permitirá que ocorra orgasmo com penetração intravaginal.

6. Sexta prática. Após haver obtido controle por este meio, o homem repetirá a experiência de coito, com a companheira ainda na posição superior, mas agindo ele agora ativamente com impulsos pélvicos e utilizando-se novamente da técnica para-reinicia.

7. Sétima prática. Depois que o coito com a mulher na posição superior for bem sucedido, o casal deverá tentar a relação sexual deitados de lado, conforme instruções a seguir. Nesta posição, a mulher ainda não transfere o controle totalmente ao parceiro, podendo interferir para interromper o coito proximamente aos sinais da ejaculação. O controle ejaculatório, com a mulher na posição superior e na de ambos deitados de lado, em geral, pode ser obtido em três ou quatro semanas. A prática do coito na posição deitados de lado se justifica por ser mais difícil controlar o orgasmo com o homem na posição superior que, em geral, é a mais estimulante, por isso sugerida por último, isto é, após a prática da posição lateral.

8. Manutenção. O tempo necessário para obter controle com o homem na posição superior varia um pouco, ocorrendo habitualmente depois das práticas acima descritas. Apesar de ser este um estágio avançado do tratamento, o casal deve repetir ocasionalmente os exercícios de para-reinicia ou para-comprime, manualmente e/ou com penetração, nas posições recomendadas, se possível uma vez a cada duas semanas, após atingir os objetivos do tratamento. Mais tarde, a intervalos mensais e bimensais, o casal deverá continuar praticando, digamos assim, matando as saudades da fase de aprendizado, a fim de se evitar recaídas e manter por longo prazo os resultados obtidos.

9. Relativamente á mulher, durante todo tratamento, deve a mesma permitir-se obter o máximo de prazer, paralelamente, ao auxiliar o companheiro a se concentrar na sua estimulação erótica, sem distração. Algumas figuras (ilustrações técnicas), sugestivas das variações de estimulações recíprocas durante o coito, podem ser obtidas na bibliografia indicada.

10. Se a mulher tiver dificuldade orgásmica, a solução viável é definir o objetivo imediato do tratamento como a obtenção do controle ejaculatório e concentrar-se na realização deste objetivo, com exclusão de todas as outras considerações. A atenção para o problema da mulher pode ser subseqüente à solução do problema do homem em obter controle ejaculatório.

Bibliografia

HEIMAN, J. R. & LOPICCOLO, J. Descobrindo o Prazer. São Paulo: Summus, 1992.
KAPLAN, H. S. A Nova Terapia do Sexo. Rio; Nova Fronteira, 1977.
MASTERS, H. S. & JOHNSON, V. E. Human Sexual Inadequacy. Boston: Little, Brown, 1970.
SEMANS, J. Premature ejaculation, a new approach. Southern Medical J., Vol. 49, 353-358, 1956.


Obs.: Este texto foi produzido pelo Profº Ildenor Mascarenhas Cerqueira para uso em Terapia Comportamental